Poderosas no varejo físico, muito atentas ao comércio eletrônico.

e-commerce

Grandes marcas ampliam suas vendas com operações próprias de comércio eletrônico, que já trabalham até como um negócio específico

Se mesmo antes já expandia-se em ritmo acentuado, o e-commerce ganhou ainda mais fôlego com a pandemia que restringiu intensamente a movimentação das pessoas. Mas, ainda agora, é pequena sua participação nas vendas do varejo brasileiro.

Leia também: O que não muda no pós-Covid. O bom e o velho normal.

De acordo com dados da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, em março último, quando já começavam a ser sentidos os efeitos da pandemia, o comércio eletrônico respondeu por 7,2% das vendas totais do varejo do país (excluindo-se veículos, peças e materiais de construção).

E pesquisa da empresa de análise de crédito Boa Vista – administradora do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) -, revelou que em 42% das empresas brasileiras o comércio online ainda representa no máximo 10% do faturamento.

Apenas 39% das empresas, informa esse mesmo estudo, têm canais próprios para as vendas virtuais; a grande maioria – 61% -, vale-se de domínios de terceiros para comércio eletrônico (leia mais dados dessa pesquisa).

Moda digital

É porém crescente a quantidade de marcas relevantes investindo em operações próprias de e-commerce, onde elas podem tanto trabalhar melhor sua imagem quanto realizar promoções e ações de relacionamento. O que não quer dizer que elas não estejam presentes também nos grandes marketplaces de vendas (ou mesmo, como se verá mais adiante nesse artigo, até mesmo investindo em marketplaces próprios).

Na moda – mercado onde a imagem de marca constitui diferencial mercadológico extremamente relevante -, já é bem intenso esse movimento de estruturação de canais próprios de comércio eletrônico.

Uma das mais tradicionais empresas da moda brasileira – a Hering, que este ano completa 140 anos de existência -, embora conte com mais de 700 lojas físicas espalhadas por todo o país, mantém uma operação para as vendas online de produtos de todas as suas marcas.

Por enquanto, nos canais digitais a Hering obtém menos de 5% de seu faturamento total; mas, enquanto seu comércio eletrônico cresceu quase 50% no último trimestre do ano passado, nesse mesmo período as vendas nas lojas físicas retraíram-se 1,9% nas unidades próprias, e 5,2% nas franqueadas (relativamente ao mesmo período do ano anterior).

E o grupo Arezzo, que reúne algumas das principais marcas de calçados do país – cujo faturamento atingiu R$ 2,3 bilhões no ano passado -, necessitando gerar vendas com a maioria de suas lojas físicas fechadas em virtude da pandemia, passou a investir mais em suas vendas digitais, em grande parte realizadas no site próprio, onde é possível adquirir produtos de suas sete marcas.

Além de ampliar os recursos destinados ao marketing digital, logo no início da pandemia a Arezzo destacou milhares de vendedores para vendas online, e conseguiu com que seu faturamento digital chegasse a um patamar correspondente a 25% do faturamento que teria caso seu varejo físico, composto por mais de 750 lojas, estivesse aberto (no ano passado, esse índice de participação do e-commerce atingiu 12,5%). Em um único dia do mês de abril, vendeu R$ 2,3 milhões pelos canais digitais.

Novas modalidades no comércio eletrônico

A expansão do interesse das grandes marcas por operações próprias de comércio virtual não está restrita ao universo da moda: atinge também setores como bebidas e produtos de beleza, entre inúmeros outros.

Em meados do ano passado, a Diageo, líder mundial do mercado de bebidas premium, presente em quase duzentos países, lançou a My Diageo, plataforma específica para o comércio eletrônico business to business com bares e restaurantes. Já mantinha, antes disso, o site The Bar, para a venda direta aos consumidores.

Também em 2019, o Grupo Boticário, que para a distribuição de seus produtos de higiene e beleza pessoal conta com uma rede exclusiva de varejo, na qual há mais de 3,5 mil lojas – próprias e franqueadas -, anunciou a aquisição do Beleza na Web, um marketplace de comércio eletrônico que comercializa marcas nacionais e internacionais desse mesmo setor: muitas delas concorrentes dessa empresa, cujas marcas são vendidas em um site próprio de e-commerce, e em operações como a Amazon.

Antes disso, a Livraria Cultura, uma das maiores redes de livrarias do país, já havia adquirido o site Estante Virtual, que disponibiliza livros usados de milhares de sebos de todo o país. Recentemente, o controle desse site foi repassado para o Magazine Luiza, que assim amplia, no mercado dos livros, sua condição de grande marketplace nacional.

Movimentos como esses mostram que o já indispensável comércio eletrônico pode ser fortalecido com operações digitais próprias, onde as marcas conseguem não apenas vender, mas também relacionar-se com seus públicos de maneira mais direta, e divulgando suas próprias características de imagem.

Ou mesmo, como acontece nos marketplaces, consolidar um canal de geração de receitas até há algum tempo impensável, na medida em que inclui mesmo a venda de marcas concorrentes (ou de operações concorrentes, como é o caso de sebos, que não deixam de concorrer com livrarias).

Leia também: Cada momento é uma oportunidade única para o marketing

Omnichannel: não mais só físico, mas longe de ser exclusivamente digital

comércio eletrônico

O avanço do comércio eletrônico não dispensa um bom trabalho de ponto de venda para uma estratégia de varejo omnichannel eficaz.

Somente no primeiro semestre de 2019, quase 30 milhões de brasileiros fizeram compras online; para mais de 5 milhões deles, foi a primeira experiência desse tipo. E muitos outros milhões de consumidores hoje pesquisam nos canais digitais as informações sobre o que desejam adquirir antes de concretizar a compra em uma loja física.

Estaria então com os dias contatos o tradicionalíssimo ponto de venda? Ou logo ele será um mero depósito, onde o consumidor apenas retirará uma compra já decidida no universo online?

A resposta é: não. Primeiramente, porque no Brasil ainda é feita em lojas físicas porção amplamente majoritária das compras: excetuando-se algumas poucas categorias, mais de 90% do total, mostram dados da Câmara Brasileiro de Comércio Eletrônico.

E é difícil imaginar as pessoas abandonando de vez o hábito de ir a uma loja, deixando de provar uma roupa ou um sapato, ignorando completamente características sensoriais – tátil, visual, olfativa -, dos produtos.

Portanto, uma estratégia de varejo agora precisa permitir ao cliente valer-se simultaneamente dos vários canais, todos eles integrados, em uma estratégia já batizada como ‘varejo omnichannel’ (que de certa forma replica no universo do varejo os preceitos da comunicação multiplataforma).

O valor da experiência do consumidor

Quem comeu em um restaurante do qual gostou, por exemplo, certamente pensará nele na hora de fazer um pedido através de um aplicativo. E nos mais diversos mercados – moda, eletroeletrônicos, artigos esportivos e de lazer, entre inúmeros outros -, uma experiência prazerosa anterior favorecerá a uma marca na hora de uma busca ou uma compra online.

O ponto-de-venda mantém-se importante não apenas por ainda gerar vendas relevantes, mas também por influenciar nas compras online.

Daí a importância de seguir trabalhando cuidadosamente a loja física, dotando-a de uma identidade própria e tornando-a espaço de experiências agradáveis. E, como pode-se ver na sequência, agora também integrando-a ao e-commerce.

Em qualquer canal, a marca é sempre a mesma, e uma ação em um deles certamente impacta os demais pontos de contato com o consumidor. A divulgação do e-commerce, por exemplo, ao estimular o desejo do consumo pode ampliar também o movimento nas lojas físicas, atraindo compradores que preferem a compra pessoal ao comércio eletrônico.

Integrando universos omnichannel

O ponto de venda precisa hoje ser linkado à agilidade e à comodidade próprias dos canais digitais.  Essa integração deve fundamentar-se em ferramentas que permitam o acompanhamento em tempo real de todos os setores da empresa, como vendas, entregas, estoque e atendimento. E pode assumir diversas formas. Algumas delas:

  • Reserva online e compra na loja física, podendo o consumidor escolher em qual loja retirará o produto;
  • Também é possível fazer o contrário: compra na loja física e entrega em casa;
  • A gôndola infinita integra o ponto-de-venda aos sistemas de estoque da rede e da loja virtual. Assim, caso na loja o cliente se interesse por um calçado – ou outro tipo de produto -, mas não encontre o número ou a cor que deseja, ele pode fechar a compra ali mesmo e receber o produto em sua casa, pois ele está disponível nos estoques;
  • Permita a troca de um produto através de qualquer canal;
  • Quiosques digitais podem integrar as lojas físicas às virtuais;
  • Estimule quem for à loja a fazer check-in – e até postar fotos -, ajudando a divulgar a marca.

Essas marcas, na verdade, trabalham não apenas um varejo omnichannel, mas também uma comunicação multiplataformas, que vale-se de diversos canais – on e offline -, na busca pelo contato com seus públicos.

É essa, atualmente, a melhor estratégia para um consumidor que pode escolher onde, quando e como irá contatar ou adquirir um produto ou serviço.

Fonte: WebShoppers

Health care e marketing digital: tudo a ver

Health care

A cada 20 buscas no Google, uma delas é sobre algum tema relacionado a saúde.

São pessoas querendo ler a bula do remédio indicado pelo seu médico, buscando relacionar alguns sintomas de doenças ao que está sentindo, adotando um comportamento mais saudável, procurando endereços de farmácias e hospitais, ter informações sobre médicos, preços de remédios ou saber mais sobre tratamentos.

Mensalmente, representa mais de 700 milhões de buscas por termos de saúde.

No Youtube, a mais popular plataforma de vídeos, são quase 100 milhões de buscas por termos de saúde.

É uma das categorias que as pessoas gastam mais do seu tempo no celular, transformando o amado aparelhinho num guia pessoal de saúde e bem-estar.

O brand content no health care

Conteúdo sempre esteve no centro da comunicação healthcare e o mundo do marketing digital ampliou substancialmente esse potencial.

Isso significa que, se você não está no universo digital, seus concorrentes estão.

Muitas campanhas educativas começam pela mídia de massa, atraindo a atenção de milhões de pessoas para as novidades e inovações de mercado.

Se sua marca só faz um trabalho de presença, mas não de relevância de conteúdo e relacionamento, você só está na internet, mas seu concorrente pode, nesse momento, estar conquistando o coração de seu público.

Ajudam o público a saber que tem um problema, muitas vezes desconhecido, e estimulam a busca de tratamento médico.

Constroem ou divulgam a boa reputação de hospitais, laboratórios, planos de saúde e diferenciais de medicamentos MIPs (isentos de prescrição).

Você pode ler um artigo que escrevi a respeito da comunicação multiplataforma aqui.

E a propaganda digital, além de estar lá nesse momento de descoberta, ajuda a acelerar a jornada de compra.

Por meio de conteúdo e relacionamento focado no interesse de cada lead, poderá estar presente também no momento decisivo.

A capacidade de segmentação é extraordinária e a curva de aprendizado sobre o comportamento do público não para de crescer.

Acredite: a internet não é somente para leigos, muito pelo contrário.

Você pode não saber, mas seu concorrente pode estar conversando fortemente com os profissionais de saúde pela internet, um meio de alto potencial de segmentação, com soluções sob medida.

O marketing digital chegou à comunicação médica e não foi hoje.

Pesquisas do Google mostram que:

– 100% dos médicos já aderiram, usando a internet para se informar sobre boletins médicos (56%), informações sobre produtos (56%), sites de apoio ao paciente (32%) e treinamento e inovações (31%).

– 84% dos médicos já se comunicam com seus pacientes via celular. Acostumaram-se que pelo menos 3/4 de seus pacientes solicitam mudanças de medicação após pesquisa online. Mais um motivo para eles estarem bem atentos a internet.

Expertise em health care marketing

Quem é do mercado sabe que comunicar sobre cuidados com a saúde precisa de expertise.

Além de ser um segmento fortemente regulamentado, a relevância se dá pela autoridade e qualidade da informação.

O amadorismo leva a dois caminhos opostos: um da zona de conforto, com mensagens sem diferencial e, portanto, de consequente performance baixa.

E outro, com punições dos órgãos reguladores e do próprio público, seja consumidor ou influenciador.

Saber a medida certa é fundamental para o sucesso da campanha.

Rosana Ameixieira é CCO da Zero11, agência que fundou com seu sócio em 1991. Já criou e planejou para mais de 100 marcas do universo de educação, saúde, beleza, alimentos, franquia, pet, entre outros.

Por que investir na comunicação multiplataforma

multiplataforma

Comunicar com seu cliente potencial onde ele está é o motivo óbvio para planejar uma comunicação multiplataforma. Mas então por onde anda o consumidor?

A frase “não sei se funciona, por que eu não faço assim” é uma velha conhecida dos publicitários e ainda persiste, ganhando novos mitos, com o boom do marketing digital.

Quem só assiste série no Netflix diz que a TV morreu.

Quem só lê jornal impresso diz que o meio digital ainda tem muito chão pra fortalecer.

E o crescimento do livro impresso, nos últimos anos, tá aí pra confundir quem apostava só no e-book.

Aquele que vive nas redes sociais se surpreende quando esbarra com pessoas com jeito de pensar e agir diferentes do seu grupo. É a tal da bolha.

A verdade é que quem passa o dia olhando para o próprio umbigo não olha para o horizonte.

Mude sua perspectiva e entenda o comportamento do seu alvo.

Nem todo mundo é jovem ou de meia idade, nem todo mundo vive em uma família tradicional ou alternativa, nem todo mundo vai votar no fulano ou no sicrano, nem todo mundo compra só em loja física ou só pelo e-commerce.

Por isso o conceito de público-alvo é ainda mais relevante para o planejamento da comunicação. E esse é o primeiro motivo para considerar fazer a comunicação multiplataforma e não apenas focar num meio que atinja o consumidor porque você acredita mais nele.

Sim, o mundo de hoje não é o mesmo de 20 anos atrás.

E daqui a 20 anos também não vai ser o mesmo. Saímos do monólogo da comunicação para o diálogo. A viralização, o velho boca a boca, tem hoje a velocidade da luz.

O papel do meio digital ganhou relevância: permite um relacionamento com o público por um tempo maior, tanto pela linguagem quanto pelo custo.

Mas tem um teto em termos de alcance, podendo minimizar o potencial dos resultados. É incomparável o alcance e impacto que muitos meios de massa podem gerar.

Em termos básicos, o que é preciso pesar na balança, além do público, para a escolha dos meios?

– Precisa de muita cobertura ou sustentação da mensagem?

– O que muda mais pra sua marca: impacto ou frequência?

– Qual o momento da jornada de compra que seu alvo se encontra?

– Qual o problema principal que precisa resolver na sua comunicação?

Além disso, estudos mostram que mensagens publicadas em várias plataformas têm maior chance de serem assimiladas e memorizadas.
Um exemplo de formato que aumenta a eficiência da comunicação é o cross media e o transmedia.

Um outro ponto bastante importante é que nem sempre o consumidor sabe que tem um problema e, portanto, não enxerga o benefício do produto ou serviço como o melhor para ele.

Escrevemos sobre a jornada de compra do consumidor, nesse artigo aqui.

Se seu público estiver num momento inicial da jornada de compra e você tem necessidade de gerar demandas muitos grandes, é provável que o meio digital não dê conta para mudar comportamento num prazo curto, porque você precisa influenciar muito mais gente.

Para retorno rápido, a estratégia de mídia precisa de um investimento maior e, geralmente, nos meios de maior alcance. Isso vale também para conquistas agressivas de market share e share of mind.

Você também deve perguntar: em quanto tempo precisarei de retorno?

Já se pode estabelecer um retorno no longo prazo ou se o investimento é pequeno, há estratégias de alta performance no meio digital para você chegar lá.

A verdade sobre quem tem o poder de influência e compra hoje.

Se você avaliar qual é a geração no topo do consumo e das decisões aumentará mais um ponto para a comunicação multiplataforma.

Praticamente todas as gerações usam as plataformas digitais e as gerações mais jovens, que foram os grandes influenciadores até agora, deixaram de ter, portanto, seu papel de guia.

A geração de nativos, jovens de 13 a 25 anos, que transbordaram seus valores para a comunicação com estética, símbolos, e causas próprias, tiveram sua relevância superestimada pelo marketing até o momento, uma vez que ainda hoje, essa geração tem baixo potencial de consumo ou é ainda latente.

Afinal, qual é a geração mais influente hoje? Exatamente a geração mais multiplataforma de todas: a geração X.

Aqueles que nasceram no início dos anos 60 até meados de 80, são 1/4 dos brasileiros e respondem por mais da metade do consumo do país, segundo últimos dados do IBGE.

A Pesquisa Abril “O x da questão”, por exemplo, colocou luz nesta questão, revelando que é na verdade a geração que mais influencia e, principalmente, que paga a conta, além de ser também aquele que tem hoje os maiores empreendedores da atualidade.

Rapazes e meninas de 40 anos, levantem suas cabeças e se orgulhem de sua geração.

Você sabia que:

– O e-commerce é praticamente sustentado pela geração X?

– É uma geração altamente conectada, abraçando as novas plataformas, e, ao mesmo tempo, aprofundando seus conhecimentos pelos jornais, revistas e TV?

– 7 entre 10 das compras on line são realizadas por quem tem mais de 35 anos (com média de idade de 43 anos), segundo Relatório eBit Webshoppers?

– Nas plataformas tradicionais, pessoas da Geração X são os high users depois dos baby boomers?

– Também são os grandes líderes e empreendedores que revolucionaram nossos dias são exatamente dessa geração?

Expertise multiplataforma

O importante é ter certeza de que quem vai planejar e criar campanhas eficientes tenha experiência e energia criativa para dar o melhor suporte ao seu plano de marketing.

Só com boas ideias e conceitos vencedores é possível resolver problemas e abrir novas oportunidades para a marca.

Não basta apenas estar presente, é necessário marcar a diferença.

Rosana Ameixieira é CCO da Zero11, agência que fundou com seu sócio em 1991. Já criou e planejou para mais de 100 marcas do universo de educação, saúde, beleza, alimentos, franquia, pet, entre outros.

A comunicação de hoje é potente?

Nossa CCO Rosana Ameixieira, com base no grande case de sucesso da Zero11, o Viagra, analisa a efetividade das comunicações nas campanhas de hoje. Quer uma companha turbinada? Fica a dica!

-Artigo publicado na Revista Marketing, edição de novembro de 2012.

A comunicação de hoje é potente?

Por Rosana Ameixieira *

Todos foram testemunhas e eu no meio do alvoroço. Já ouvi gente dizer que não haveria destino diferente para um medicamento que nascia para resolver um medo masculino milenar. Mas isso também era um tabu, assim como a impotência.

Parece fácil falar de sexualidade num país onde a maioria se acha sensual. Ah, é? Pergunte numa sala quem quer emagrecer? Quase todos vão levantar a mão. Agora, pergunte quem quer melhorar seu desempenho sexual? Silêncio e risadas, no máximo.

Brasileiro fala de sexo com os amigos, conta vantagem, só que não tem a menor disposição de conversar com a própria parceira. Que dirá com o médico? Quando Viagra foi lançado, não havia outro jeito de comprar o medicamento, só tendo uma boa conversa com o especialista. Homem se abrindo, conversa franca? Dá para entender como foi bem mais complicado lançar o Viagra do que pode parecer.

Não vou nem detalhar sobre os cuidados que foram tomados com a imagem. Viagra era fruto de uma descoberta científica e não um produto que se vende em garrafa. E, para o público feminino, poderia ter sido marcado como uma ameaça à estabilidade do relacionamento, mas também isso foi cuidado.

De fato, não haveria outra escolha, senão a da ousadia e da clareza. Falar de sexo logo nos títulos dos anúncios, na hora da novela, no meio da sala, debaixo de 40º na praia.
Ainda tem mais: talvez o maior desafio de todos: não assinar como Viagra, mas ser percebido como tal.

Nunca percebeu? As campanhas de Viagra não falavam do produto, sequer mencionavam atributos como segurança ou eficácia. Isso porque, no Brasil, medicamentos sob prescrição médica não podem fazer campanhas voltadas ao público consumidor, apenas ao médico. Nos EUA, por exemplo, pode, mas os produtos têm rigoroso controle na distribuição. Não é novidade para ninguém que a comunicação, muitas vezes, é responsabilizada pela ineficiência dos órgãos que deveriam fiscalizar e educar.

Apesar de tudo, Viagra tornou-se sinônimo de categoria e o mercado farmacêutico, tradicional nos anos 90, viu Viagra invadir a mídia e levar pacientes aos consultórios, perguntando sobre o tratamento.

A Zero11, que foi a agência responsável pela comunicação multiplataforma, desde o pré-marketing e por mais oito anos, não só inaugurou no Brasil a comunicação DTC (direct to consumer), como fez de um jeito novo, até para o resto do mundo. Inspirou, mudou comportamentos e moveu o público à ação.

Já em meados dos anos 90, com Viagra, a Zero11 dava seus primeiros passos para o que chamamos hoje de movimentos culturais e campanhas de engajamento.

O grande protagonista foi o homem e sua causa. Quisemos provocar uma atitude: encarar o medo, a vergonha, o preconceito e ir ao médico. O que isso tem a ver com os dias de hoje? Tudo.
Aquilo que foi feito com Viagra, hoje é quase uma obrigação. Estamos na era do engajamento, do diálogo, da geração de conteúdo, da experiência compartilhada, do “newism”, do “cultural movement”. Só para falar de algumas coisinhas que nem são tão novas assim.

A tecnologia mudou a forma de se fazer comunicação e, quem ainda não quer enxergar, vai ficar para trás, aliás já ficou. Mais do que nunca, a marca que quiser falar de si própria à força, vai perder no braço com o consumidor. Quem não proporcionar diversão ou gerar informação de interesse para o consumidor, não será ouvido. Preço baixo na TV vai ser conferido pela internet. A zumbilândia vai sucumbir. É o fim desse mundo.

Assim como Viagra fez com que homens (e o casal) mudassem sua forma de ver o problema e tomassem uma decisão, as campanhas hoje devem também fazer com que o público se enxergue como protagonista. De fato, é ele quem decide o que compartilhar e comprar.

O dilema é fazer isso sem entregar a marca ao canibalismo. Estamos assistindo a uma realidade impressionante, com tanta bobagem fazendo sucesso. Filmagens amadoras, pessoas no seu melhor ridículo têm milhões de views e likes, muito mais do que um trabalho sério de conteúdo. É esse o caminho que dá resultado? Fazer barulho sem preocupação com qualificação? Para algumas marcas que focam determinado público e tem um apelo “fun”, pode até ser. Mas, não podemos colocar todo mundo no mesmo saco. Se fosse assim, copiar estratégias e ideias daria o mesmo resultado para todos e não dá.

É importante não perder o foco da marca, da reputação conquistada ou ainda a conquistar. Resultado anda ao lado de pertinência e conexão emocional, construída através do tempo.
Conhecer o comportamento e as tendências também são um trunfo. Mas saber distinguir entre o que acontece agora e o que está por acontecer é o que separa o líder dos seguidores. Quantas pesquisas surgem divulgando pretensiosamente diversos comportamentos como tendências e de fato são movimentos ou cenários já instalados no presente. No planejamento, o que vale é a capacidade de enxergar as possibilidades onde ninguém vê.

Quando o que se busca é um resultado novo, não cabe continuar com velhas fórmulas. Temos que contar uma história marcante, que faça sentido antes para o público envolvido com a marca e permita, com isso, despertar consciências, modificar atitudes ou comportamentos. E reunir os meios que, além de comunicar, conquistem, inspiram e criem o diálogo. Assim, a campanha nascerá turbinada.

* Rosana Ameixieira é sócia e CCO da Zero11 Idea Co, agência que fundou com seu sócio há 21 anos.